Este trabalho está em desenvolvimento e tem caráter performativo. Realizado de forma solo e intimista, os autorretratos representam a jornada mítica do conto popular brasileiro "O casamento da Mãe d’Água", à luz das questões que constelam em torno do seu casamento e que reverberam com a história real de mulheres contemporâneas, como eu.
A lenda brasileira traz a estória de um pescador muito pobre, que sem ter o que comer, numa noite foi pescar e ouviu o canto de uma linda mulher. Aproximando-se dele, ela perguntou o porquê de sua tristeza. Ouvindo-o, penalizada ela afirmou que, naquela noite, não lhe faltaria peixe e sua fome seria saciada. A partir daí, iniciou-se um romance, ele apaixonado, ela desejosa de viver a experiência do amor humano. O pescador a pediu em casamento e ela aceitou mediante duas condições: que ele jamais insultasse o reino das águas ou aqueles que lá viviam e que usasse no casamento um vestido azul. Ela se esforçou para se adaptar à vida dele, vivendo sua estória de amor, num casebre em condições paupérrimas, próximo às águas, embora fosse dona de seu rico reino. Entretanto, com o passar do tempo ele foi mudando seu comportamento, de galante e afetuoso passou a ser grosseiro, controlador e agressivo. A Mãe d'Água achou que se o marido se tornasse rico, ele voltaria a ser gentil e amoroso. Graças aos seus dons mágicos, ela trouxe prosperidade à família. Passaram-se anos e ele gastava sua riqueza nos prazeres mundanos, deixando-a sozinha, desrespeitando-a e esquecendo de seu compromisso matrimonial. Ela passou a ficar, constantemente, na janela contemplando as águas e entoando seus cânticos de saudade de sua antiga vida e do seu reino. Um dia, quando o pescador chegou, irritou-se ao ouvi-la cantar tristemente e blasfemou contra ela e sua gente.  Ela disse, então, que não suportava mais a vida que levava na terra, que ele somente se interessava pela riqueza que ela trazia e como ele descumprira a promessa, insultando a gente das águas, ela voltaria ao reino. Assim o fez e as águas invadiram a terra, levando tudo para as profundezas. 
A representação imagética iniciou, através de autorretratos, em 2018 na Lagoa de Araruama (RJ, Brasil), em 2020 continuou no Pantanal (MT, Brasil) e em 2021 a fase doméstica da estória está sendo desenvolvida em Cuiabá. Através da reinterpretação desta lenda evidenciou unidades de significado como: amor, feminilidade, sexualidade, fertilidade, abundância, solidão, prosperidade, melancolia, saudade, patriarcalismo, subserviência, autonomia e liberdade, aspectos ligados ao fluxo e pulsão da vida da mulher contemporânea que vive sob a égide desta sociedade patriarcal e dominadora recompensa mulheres que mantêm uma aura de pureza, bela recatada e do lar, que passivamente se submetem aos padrões impostos, objetificando-as, enquanto culpabiliza àquelas que atuam livremente e seguem seus desejos. 
Este conto, presente secularmente no imaginário social do Brasil, mostra a jornada da heroína Mãe d’Água que se rebela frente às circunstâncias impostas e volta ao seu reino, seu lugar, empoderada e soberana.
A seguir apresentamos algumas imagens do projeto, que segue em processo de desenvolvimento.
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THE WEDDING OF THE WATER MOTHER. A WOMAN'S MYTHICAL JOURNEY
This work is in development and has a performative character. Carried out in a solo and intimate way, the self-portraits represent the mythical journey of the Brazilian popular tale "The marriage of the Mother of Water", in the light of the issues surrounding her marriage and that reverberate with the real history of contemporary women.
The Brazilian legend brings the story of a very poor fisherman, who, without anything to eat, went fishing one night and heard the singing of a beautiful woman. Approaching him, she asked him why he was sad. Listening to him, pitying, she stated that that night she would not lack fish and her hunger would be satisfied. From there, a romance began, he in love, she wanted to live the experience of human love. The fisherman asked her to marry him and she accepted under two conditions: that he never insult the kingdom of the waters or those who lived there and that he wore a blue dress to the wedding. She struggled to adapt to his life, living her love story, in a shack in very poor conditions, close to the waters, although she was the owner of his rich kingdom. However, over time he changed his behavior, from being gallant and affectionate to being rude, controlling and aggressive. Mother of the Water thought that if her husband became rich, he would return to being kind and loving. Thanks to her magical gifts, she brought prosperity to the family. Years passed and he spent his wealth on worldly pleasures, leaving her alone, disrespecting her and forgetting about her matrimonial commitment. She started to stand, constantly, at the window, contemplating the waters and singing her songs of longing for her old life and her kingdom. One day, when the fisherman arrived, he was irritated to hear her sing sadly and he cursed her and her people. She then said that she could no longer bear the life she led on earth, that he was only interested in the wealth it brought, and as he had broken his promise, insulting the people of the waters, she would return to the kingdom. She did so, and the waters invaded the earth, taking everything to the depths.
The imagery representation began, through self-portraits, in 2018 in Lagoa de Araruama (RJ, Brazil), in 2020 it continued in Pantanal (MT, Brazil) and in 2021 the domestic phase of the story is being developed in Cuiabá.Through the reinterpretation of this legend, he evidenced units of meaning, such as: love, femininity, sexuality, fertility, abundance, loneliness, prosperity, melancholy, longing, patriarchy, subservience, autonomy, and freedom, aspects related to the flow and drive of life.
The dominant patriarchal society rewards women who maintain an aura of purity and who passively submit to imposed standards, objectifying them, while blaming those who act freely and follow their wishes. This story, present for centuries in the social imaginary of Brazil, shows the journey of the heroine Mãe d’ Água who rebels against the imposed circumstances and returns to her kingdom, her place, empowered and sovereign.
Below we present some images of the project, which is still under development.